segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O colar de rubis vermelhos cubanos

Quem diria. Eu nunca tinha ponderado a quantidade preponderante de poderosos que traem no Copacabana Palace. O Capitão de Fragata Luiz Felipe Ferro conseguiu acesso à minha suíte devido ao seu bom relacionamento com o os agentes no comando da Operação Panamá.

Batizada com uma referência ao chapéu que praticamente já não saía mais da minha cabeça, a operação conferiu uns quilinhos a mais pro meu ego. E quem diria.

Em menos de uma semana, engordaria também o cofrinho guardado no closet da colossal suíte em que eu gozava a mais produtiva clausura desde os tempos de lavabo. Também ganhei uns quilinhos.

O terno vermelho foi rapidamente ficando mais apertado enquanto eu comia todos os croissants e pastéis de belém que cruzavam o meu caminho. Estadia e comida de graça. No Copa.

O meu terno parou de fechar, os botões não se viam mais, separados por uma barriga de Coca-Cola e croissant. Lados opostos da moeda. As mangas já surradas começaram a apertar como nunca no sovaco. Precisava de um terno novo. Dois. Vermelhos.

Comprei, com o dinheiro que restava do caso do Roberto Carlos, dois ternos à altura do Palace. Um pra vestir na hora e outro sob medida. Um chapéu Borsalino, um clássico Fedora branco com fita de gorgurão preta.

Gastei todo o meu dinheiro naqueles pedaços de falsos status de pano, mas a comida era de graça... e em todo caso eu não podia deixar o hotel mesmo. E precisava de um ajuste no visual. Ainda queria faturar em cima dos quinze segundos de sensacionalismo barato.

Barba, cabelo e bigode no Copacabana Palace Salon. Banho revitalizante no Copacabana Palace Spa. Vesti o meu terno e chapéus novos. Olhei pro elegante e obstinado detetive me encarando no espelho. O terno vermelho me caía mesmo muito bem. E bem a tempo. Um agente anunciou uma visita na ante-sala. Ou seria ante-quarto?

— E eu posso receber visita?

— O Capitão de Fragata Luiz Felipe Ferro está à sua espera. Legal, o terno.

Encontrei o Capitão Ferro bebendo uísque no bar do ante-quarto. O copo de cristal tradicional do Copa na mão direita e algo brilhava na mão esquerda. Algo vermelho.

Contas reluzentes pendiam do dedo indicador do oficial da Marinha conhecido por beber e matar demais na sua época. Estendeu a mão esquerda.

O coroa parecia um velho rico e amargurado. Trajes oficiais impecáveis. Medalhas. Cabelinho ralo de milico velho. Alto. Hálito altamente etílico. Olhos quase vesgos, quase dementes. Não achei que exigiria as honras de uma reverência adequada a um oficial superior reformado.

— O que é isto? — perguntei sem cumprimentá-lo.

— O colar de rubis vermelhos cubanos dela.

Ela? Aquilo soou e cheirou a caso de traição. Ele sentou ofegante. Contou a história. Ela estaria no hotel na quarta-feira de cinzas. Escreveu o nome dela e o número do quarto no verso de um cartão de visita qualquer.

Preencheu e assinou o cheque. Guardou o colar cubano no bolso direito de sua farda azul. Não... o colar não era cubano, cubanos eram os rubis. Guardei o cheque no bolso interno esquerdo do meu Caraceni vermelho.

Oficialmente, o primeiro cliente militar da minha carreira. Um oficial assassino aposentado. Bêbado. Corno. Apertei sua mão.


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